Como Contar Histórias com Fantoches

ouvindo história
Como contar Histórias com fantoches
Saco de Bichos – Espetáculo de José Robson

Seja manipulando bonecos, contando com fantoches, ou marionetes de fio, as histórias encantam até mesmo os mais velhos. Aqui vou passar algumas dicas e importância de como contar histórias com fantoches, que pode ser adaptadas de acordo com o objetivo de cada um.

O poder dos fantoches na imaginação infantil.

Esse recurso estabelece uma “socialização” entre a criança e o personagem. Ela se interessa vivamente pelo mundo do boneco, a ponto de travar diálogos com ele, esquecendo/abstraindo completamente o manipulador. Note que as crianças, ou estão na fase do “animismo”, ou na fase da “imaginação”. Em ambas as fases, o encontro com o boneco é extremamente sadio. Na fase do animismo, a criança acredita mesmo que o personagem tem vida e se relaciona de forma verdadeira e espontânea. No segundo caso, a criança, apesar de entender que há alguém manipulando, sua imaginação anula a realidade e ela vivencia o momento de forma intensa e lúdica. Em ambos os casos, ela se abre emotivamente e é facilmente induzida a agir de determinadas formas, ou fazer ações propostas.

O poder do boneco na imaginação infantil pode ser estimulado de diversas formas, como:

  1. Através de histórias: contar histórias com fantoches pode ajudar a estimular a imaginação infantil, permitindo que as crianças criem seus próprios personagens e enredos.
  2. Brincadeiras de faz de conta: brincadeiras de faz de conta com fantoches podem ajudar as crianças a desenvolver sua criatividade e imaginação, permitindo que elas criem suas próprias histórias e personagens.
  3. Diálogos imaginários: muitas crianças criam diálogos imaginários com seus bonecos, permitindo que elas expressem seus sentimentos e pensamentos de forma aberta e honesta.
  4. Papel do manipulador: o manipulador do fantoche pode ajudar a estimular a imaginação infantil, permitindo que a criança crie histórias e situações em que o boneco está envolvido.
  5. Brincadeiras temáticas: brincadeiras temáticas com bonecos, como casinha ou escolinha, podem ajudar a estimular a imaginação infantil, permitindo que as crianças criem seus próprios cenários e histórias dentro da temática escolhida.

A utilização de bonecos para ensinar valores e promover diálogos terapêuticos.

Os bonecos são indicados para promover a socialização e a ensinar hábitos, atitudes e rotinas para as crianças. Além disso, podem ser usados para estimular o “diálogo” puro e aberto. A criança contará ao boneco o que não contaria a um adulto, mesmo que este seja o manipulador. Muitas terapias lançam mão desse recurso para extrair das crianças acontecimentos, medos e traumas.

É nesse momento em que a criança está totalmente entregue, que podemos, com cuidado e com amor, doar um pouco das virtudes necessárias ao seu desenvolvimento. As palavras “mágicas” e ações como organização do próprio espaço, cuidados pessoais, respeito aos mais velhos… São qualidades que precisamos despertar nas crianças, e o boneco é um caminho lúdico e seguro.

A utilização de bonecos pode ser benéfica em diversas situações, como:

  1. Ensinar hábitos e rotinas: fantoches podem ser usados para ensinar às crianças hábitos e rotinas importantes, como escovar os dentes, tomar banho e arrumar a cama. Ao verem o boneco seguindo esses hábitos, as crianças podem ser incentivadas a segui-los também.
  2. Promover a socialização: os fantoches podem ser utilizados para promover a socialização das crianças, especialmente em situações em que elas estão enfrentando dificuldades para interagir com outras pessoas. As crianças podem se sentir mais confortáveis em interagir com um boneco do que com um adulto ou outra criança.
  3. Estimular o diálogo: as crianças muitas vezes se sentem mais confortáveis em conversar com um boneco do que com um adulto. Isso pode ser especialmente útil em terapias, onde as crianças precisam expressar seus sentimentos e pensamentos de forma aberta e honesta.
  4. Ensinar valores e virtudes: os fantoches podem ser usados para ensinar valores e virtudes importantes, como respeito, responsabilidade, generosidade e empatia. Ao verem o boneco praticando esses valores, as crianças podem ser incentivadas a praticá-los também.
  5. Promover o desenvolvimento emocional: ao interagir com bonecos, as crianças podem desenvolver habilidades emocionais importantes, como empatia, autocontrole e resolução de conflitos. Isso pode ser especialmente útil em situações em que as crianças estão enfrentando dificuldades emocionais.

Como contar histórias com fantoches de acordo com as idades

Quando converso com meus alunos nas oficinas de contação de histórias e me perguntam qual seria a idade adequada para a introdução e uso dos fantoches, eu pego um dos bonecos e respondo e vou contando com o fantoche.

O grupo se inclina para ouvir e travar um diálogo com o boneco, assim que ele começa a ganhar vida através da manipulação. Aí peço para repetirem a pergunta, e respondo perguntando “Qual a a sua idade?”.

Por mais que os adultos e adolescentes argumentem que é “bobinho”, infantil e queiram demonstrar um certo “desinteresse”, sempre percebo um sorriso de canto de boca, um olhar que brilha com ares infantis ainda em vários momentos da apresentação.

Não há uma idade para a introdução dos fantoches, como também não há uma idade que seu uso deixe de ser alegre e proveitoso.

Acontece que, em algumas fases da vida, a interação e o olhar mudam em relação ao boneco:

  • pré-verbal – Estimula a fala e a interação;
  • inicio da fala – estimula o diálogo e o querer;
  • após a primeira dentição completa (3 anos +-) – estímulo a socialização e aos hábitos;
  • início da alfabetização – estímulo ao aprendizado, conceitualização e contextos.

Durante todas as fases, a apresentação dos fantoches também será uma técnica de contação de histórias usada para o entretenimento e diversão, em eventos sociais e culturais, em escolas e espaços públicos, sem qualquer prejuízo das destinações acima, que serão usadas em propostas distintas por educadores, pais e artistas.

Entenda que o uso dos fantoches numa contação de histórias é uma ferramenta da própria narrativa. Os espetáculos de teatro de bonecos e fantoches tem sua própria ciência e inserção cultural.

Como Contar Histórias com fantoches na idade pré-verbal

Para estimular a imaginação e o desenvolvimento cognitivo de crianças pré-verbais, contar histórias com fantoches é uma ótima opção. Abaixo, seguem algumas dicas para ajudar nessa tarefa:

  • Escolha histórias simples: É importante selecionar histórias curtas, simples, com poucos personagens e situações fáceis de entender.
  • Use fantoches coloridos: Para prender a atenção da criança, escolha fantoches coloridos e atraentes, como os de animais, que costumam ser muito populares entre elas.
  • Interaja com a criança: Durante a contação da história com os fantoches, faça perguntas à criança e peça que ela interaja com os personagens. Por exemplo, você pode perguntar “O que o coelhinho está fazendo?” ou “Você sabe o som que o cachorro faz?”.
  • Faça movimentos engraçados com os fantoches: Para tornar a história mais interessante, faça movimentos engraçados com os fantoches e utilize vozes diferentes para cada personagem.
  • Use música e efeitos sonoros: Utilize música e efeitos sonoros para prender ainda mais a atenção da criança, como cantar uma música relacionada à história ou imitar o som de um carro ou de um pássaro.

Lembre-se de que o objetivo é estimular a imaginação e a criatividade da criança. Por isso, não se preocupe muito com a história em si, mas sim em proporcionar uma experiência divertida e motivadora para que a criança interaja com os fantoches e com você.

Como contar histórias com fantoches na idade de alfabetização

Contar histórias com fantoches é uma excelente maneira de estimular o interesse das crianças pela leitura durante a fase inicial da alfabetização. De acordo com a professora Ana Paula Cremonez, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), “o uso de fantoches durante a contação de histórias pode ser um recurso interessante para a alfabetização, pois incentiva a participação da criança, desenvolve a criatividade e a imaginação, e ainda ajuda no processo de construção da identidade”.

Para contar histórias com fantoches para crianças que estão iniciando o processo de alfabetização, é importante escolher histórias com vocabulário adequado e que estimulem a imaginação da criança. Alguns exemplos de histórias são: “O Pequeno Príncipe”, “O Patinho Feio”, “Chapeuzinho Vermelho”, entre outras.

Durante a contação da história com os fantoches, é importante incentivar a participação ativa da criança. A professora Ana Paula Cremonez sugere que “os fantoches podem ser utilizados para fazer perguntas sobre a história, para incentivar a criança a contar a sua própria versão, ou ainda para estimular a criatividade da criança, pedindo que ela crie uma nova história a partir dos personagens apresentados”.

Além disso, é possível utilizar os fantoches para ajudar na identificação de letras e palavras. Por exemplo, é possível criar um fantoche de cada personagem da história e colocar a letra inicial do nome de cada um no corpo do fantoche. Dessa forma, a criança pode identificar as letras e associá-las aos personagens da história.

Segundo a psicóloga Gisela Wajskop, “a contação de histórias com fantoches é uma forma de tornar a leitura mais lúdica e agradável para as crianças, estimulando o interesse e a curiosidade pela leitura desde cedo”. Portanto, contar histórias com fantoches pode ser uma ótima maneira de incentivar as crianças na fase inicial da alfabetização, tornando a leitura uma atividade prazerosa e divertida.

Dicas de manipulação de fantoche

  1. Escolha um fantoche que se identifique com a mensagem que você quer transmitir. É importante que a personalidade do boneco combine com a sua própria personalidade.
  2. Organize os bonecos e material num varal logo abaixo da “empanada” ou palquinho de teatro de fantoches ao alcance das mãos, mesmo que esteja com um fantoche em cena.
  3. Treine o controle da sua voz, utilizando diferentes entonações e variações para que o personagem soe natural e coerente com a sua personalidade.
  4. Explore a expressão corporal para dar vida ao personagem. Utilize movimentos amplos e expressivos para fazer o personagem se mover de forma fluida e natural.
  5. Dê mais vida ao personagem aplicando diferentes respirações em momentos diferentes da história para passar a sensação de emoções distintas relacionadas a intenção e emoção.
  6. Planeje a história com antecedência, definindo a mensagem que deseja transmitir e os pontos principais da narrativa. Lembre-se de incluir momentos de interação com a plateia, estimulando a participação das crianças.
  7. Antes de apresentar a história, treine a manipulação do fantoche de luva, praticando os movimentos e a voz até que se sinta confortável com o personagem.
  8. Lembre-se que a manipulação de um fantoche de luva é uma forma criativa de se comunicar e se expressar. Além disso, conforme citado pela professora e pesquisadora de teatro para crianças Inês Cardoso, a manipulação de fantoches pode ajudar no desenvolvimento das habilidades sociais e emocionais das crianças, estimulando a sua imaginação e a sua capacidade de interação com outras pessoas.

Relato de uma experiência com fantoche

Em uma das nossas apresentações, as crianças se aproximaram para conversar com os bonecos depois da história. Uma das crianças escolheu o personagem “Bartô”, muito estudioso e sabido, para dialogar, no que perguntou “Você gosta de matemática” e Bartô respondeu “Sim, é minha matéria preferida”. Ela continuou “Quanto é duas vezes dois”, e Bartô “Quatro”.  “E Seis mais seis?” – “Doze”. – “cinco vezes dois”. – “Dez”. Então ela sai correndo ao encontro da professora no fundo do teatro, gritando “Professora, ele sabe mesmo matemática. Acertou tudo”. 

Festa infantil com um teatrinho de fantoches

Uma sessão de contação de história que foi encomendada para um aniversário infantil, usando boneco de mão, que nem é boneco, nem fantoche tradicional. Apresentações em aniversário tem uma vida própria, se assim se pode dizer, porque nem é um espetáculo, nem é uma ação educacional, nem é um conto tradicional. É mais um “acontecimento” com todas as perturbações que um espetáculo não deveria ter durante sua execução. O desafio é manter a concentração das crianças, principalmente, competindo com os doces, os convidados saindo e chegando, brinquedos, curiosidade dos presentes que chegam e se abrem, a despreocupação dos pais, mesmo quando as crianças “interferem” na história, pegando, tirando objetos e cenários do lugar, chutando a canela do ator…




Ao final do curso, as informações para a criação do plano de uma contação de história. Os detalhes, tais como texto, formato e como enviar para sua avaliação final estarão na “rota de aprendizagem” .(os exercícios, plano de aula e vídeos são exclusivos para alunos do curso.)


O Artigo acima faz parte integral do “Curso de Contação de Histórias” da Cia ArtePalco. Não pode ser reproduzido, copiado, ou utilizado sem prévia autorização.

INSCREVA-SE: Se deseja participar do curso, inscreva-se em aqui.