Contando História com Livro

Contação com livros

Livros: seria comum dizer que contar histórias através da leitura de um livro para uma platéia infantil promove o interesse pela própria leitura. Já ouvimos e lemos essa argumentação inúmeras vezes.  Também o argumento de que o livro desenvolve a imaginação é muito recorrente, principalmente no meio pedagógico.

Na verdade, todas as formas de contação de histórias incentivam a leitura e a imaginação, pois, no momento em que não haja um “intermediador” entre as letras e a criança, esta se voltará, ora para o “faz de conta”, ora para a “pega” de um livro, mesmo que não saiba ler com fluência. E fará inúmeras ligações neural e emocional  com as histórias ouvidas em narrativas através do livro.

É difícil, mesmo quase que impossível encontrar livros infantis desprovidos de cores e gravuras/ilustrações. Estas são dispostas “folha-a-folha”, como um resumo pictórico da cena escrita. Cada gravura completa a próxima, construindo um “roteiro visual”. Além disso, muitos dos substantivos estarão representados nas ilustrações (castelos, princesas, animais, objetos), o que a ajudará a entender “conceitualmente” o que é, e qual é a “forma” de muitas das coisas que se citam na história.

Então, percebemos que as crianças, apesar de “ouvirem” nossa narrativa, pedem inúmeras vezes que mostremos o livro, suas ilustrações, e a cada virada de página, os pedidos se repetem. Assim, não basta apenas “ler” o livro, teremos que tê-lo praticamente decorado, pois que muitas vezes estaremos narrando e, ao mesmo tempo, mostrando para as crianças.

Quando contamos com o livro, ativamos a memória da criança e ajudamos a promover uma aceleração nas ligações de neurônios. Ela fixa conceitos, pois o livro trás pronto o significado de muitas coisas através das gravuras. Como exemplo, ao narrarmos “a princesa vestia azul e morava na torre amarela”, a criança, sem ver qualquer ilustração, imaginará através de “memórias pictórico-imaginativas” um tipo de torre, outro tipo de vestido, que serão diferentes daqueles imaginados pelas outras crianças ouvindo a mesma história. Porém, quando a ilustração é revelada, ela “abandona” as imagens criadas em sua imaginação e terá como referência, o conceito ilustrativo do livro, e todos passarão a ter a mesma referência sobre um mesmo objeto/substantivo. Assim, através do livro ilustrado, passamos às crianças “conceitos” sobre o mundo, mesmo que subliminarmente.

Mas é errado, então, contar a história e mostrar as ilustrações do livro? Não iremos atrapalhar o desenvolvimento das crianças a medida que desconstruímos a sua criação imaginativa quando mostrarmos que o que elas “imaginaram” é diferente do que o ilustrado desenhou?

De forma alguma. É o narrador que faz a mediação entre o livro físico, a história e as crianças. Brincar e aumentar as possibilidades, dando não somente a versão impressa, mas estimulando a formação de novas imagens ao decorrer e até mesmo após a história ser contada, é importante e deve ser um dos aspectos a serem abordados.

Com o livro, além do incentivo à leitura e o exercício da imaginação, passamos conceitos e exercitamos a memória física da criança. Depois de contar uma história com livro, em que as ilustrações são mostradas, experimente pedir que todos recontem a história apenas vendo as ilustrações página por página. Verá que a maioria saberá contar com precisão os acontecimentos, mesmo que não seja com as mesmas palavras.

Duas propostas de ação

A maioria dos livros de hoje já tem uma fase etária indicativa, ou diretamente no corpo do livro, ou organizada por idade nas prateleiras das livrarias, ou catálogo online. De qualquer forma, a apresentação da narração de história em que usaremos o livro como ferramenta terá, além da indicação etária do livro, a forma cênica em que o livro será inserido.

Vou dividir em dois grupos principais de crianças:

  • Alfabetizadas até 9 anos.
  • Não alfabetizadas, a partir de 6 meses.

Não Alfabetizadas

Para as crianças que ainda não sabem ler, escolher algumas palavras e imagens  no texto, de acordo com cada proposta,  e brincar fonética e visualmente com esses elementos escolhidos poderá capturar a atenção. Quanto maiores, a narrativa ganhará maior inflexão, quanto menores, mais musicalidade. Ritmos e movimentos chamarão muita atenção. Sim, podemos mostrar o livro também.

Alfabetizadas

Já para as crianças que estão no período de alfabetização e conhecem palavras e até são capazes de ler pequenas frases, poderemos evoluir, não só com  ritmos, musicalidade e inflexões mais elaborados, mas materializando algumas cenas, com objetos pré-produzidos constantes no livro. Mostrar, ou não, a ilustração do livro será uma opção dentro de uma proposta, e também de uma “combinação” com as crianças se for necessário e possível.  

Independentemente de serem, ou não alfabetizadas, as formas de apresentar a história com o livro dependerá da proposta da ação do narrador e da sua habilidade e preparação.

Na foto: José Robson.

Assim, o livro passará a fazer parte do nosso recurso conceitual quando as crianças já estiverem maduras para entender que “a ilustração” é o jeito de ver do desenhista, e não a verdade sobre aquilo. Normalmente isso ocorre por volta do período da alfabetização. Mas independentemente do objetivo conceitual, o livro sempre será importante na formação do pequeno leitor, seja a idade que for. Nesse sentido, o emprego e empréstimo do livro para a manipulação e leitura visual das crianças, dentro e fora da contação de história sempre é recomendado e está alinhado com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

Antes disso, os livros devem e podem ser oferecidos para as crianças, mas note que esses livros mostram ilustrações genéricas: lagoas, bichos, florestas… Imagens que representam genericamente o mundo, e não especificamente. Além disso, elas ainda estarão no mundo do animismo e descoberta, já estudado numa das aulas anteriores, o que dissocia o “conceito” da qualidade, em favor da afinidade emocional, da vivência e do entendimento das coisas a sua volta.

Relato de uma experiência

Em uma das nossas apresentações, um menino disse que a contadora de história não poderia ser “princesa” de jeito nenhum. Indagado do motivo da sua afirmação, respondeu prontamente que  “a contadora não era loira”. Veja que muitas referências são passadas para a criança desde a infância sobre como são as coisas. Neste caso, a maioria dos desenhos animados, aqueles desenhos “mimeografados” com princesas de cachos e olhos e cílios  grandes, e muitas outras referências similares, distorcem a realidade e a verdadeira natureza das coisas a nossa volta.

Trazer à discussão ali que existiram reinos nórdicos, africanos, asiáticos, e que os povos  da terra possuem diferenças culturais e diferenças antropológicas, dando exemplos para o entendimento, trocando alguns cenários da história para mostrar que existem povos,  reis, princesas e, claro, crianças de etnias diferentes , ajudou naquele momento.


Ao final da aula, mais informações para a criação do plano de uma contação de história. Os detalhes, tais como texto, formato e como enviar para sua avaliação final estarão na “rota de aprendizagem” .(os exercícios, plano de aula e vídeos são exclusivos para alunos do curso.)


O Artigo acima faz parte integral do “Curso de Contação de Histórias” da Cia ArtePalco. Não pode ser reproduzido, copiado, ou utilizado sem prévia autorização.

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