
O contador de histórias se despede da plateia após o conto, desmonta seus equipamentos, troca de roupa e vai para outro evento, ou para sua casa… Essa é a rotina de muitos profissionais que trabalham com a arte de contar histórias.
Só que tem casos que o pós-conto necessita de uma ação artística, ou social, comandada pelo próprio contador, ou sua equipe. Isso se deve pelas seguintes razões:
- A ação prevê uma oficina, combinada pela contratante;
- O contado é um professor e usa a história como matéria interdisciplinar;
- A contação é parte de uma ação social, ambiental, ou cultural de uma ação maior;
- A história é um lançamento de livro que necessita de um fechamento ilustrativo.
Emendar a história a atividade lúdica, educacional, ou social fará, então, parte da dinâmica e da finalização da história. Essa continuidade deverá fazer parte do projeto, prevendo algumas variáveis, elencadas em reuniões prévias entre a produtora, cliente, propositora e o contador. Com base nas situações em que essas atividades pós-conto ocorrem, o contador provavelmente ira fazer algum trabalho manual, ou lúdico, tomando como referência:
- Um, ou mais personagens da história;
- O tema, argumento principal, ou algum elemento importante da história;
- Material usado na construção do cenário, personagens, elementos cênicos.
Desde a atividade mais simples – desenhar – até a proposta de algo mais complexo, as crianças vão precisar de tempo para ambas as atividades. A história não poderá ser tão extensa e a atividade pós-conto deverá ter a complexidade pensada para que dure dentro do tempo em que as crianças ainda possam permanecer no espaço.
Já a execução da atividade pós-conto pode ser realizada de formas diferentes para se conseguir diferentes dinâmicas:
- O contador aplica a atividade ainda dentro do “espírito da contação”;
- O contador deixa de ser personagem e realiza a atividade;
- Um personagem da peça, como um fantoche, propõe a atividade;
- Uma terceira pessoa realiza a ação.
Seja como for, a partir da ação proposta, as crianças irão trabalhar elementos para fortalecer algo referente a histórias. Quando o evento é comercial, as crianças terão contato com o material a venda no espaço, ou usado na história. Quando é educacional, a dinâmica será para fortalecer, ou apresentar algum conceito didático-pedagógico dentro de um plano de aula educacional.
Relato de uma experiência pós-conto
Fui contar história numa loja de brinquedos e livros infantis na Zona Sul São Paulo num final de semana. A gerente escolheu uma das histórias do meu repertório autoral, com duas sessões no período da manhã e outras duas à tarde.
A história escolhida foi “O Segredo da Felicidade” que tem personagens animais em forma de fantoches e origami. Essa é uma das histórias que mais gosto de contar. Os clientes foram convidados para assistir através de cartazes na loja, panfletos, e-mails, evento no facebook e grupo de whatsapp. Os lugares para as quatro sessões se esgotaram e ficamos muito felizes.
Ao final da primeira sessão, a dona da loja e a gerente, ambas com seus filhos pequenos, relataram que adoraram a história e que tiveram a ideia de incluir os bonecos a venda da loja na história. O problema era que não tinha nenhum que fosse parecido com a história que levei, pois cada um dos personagens tinha uma característica, uma música tema e se relacionava uns com os outros de maneira específica. A adaptação era perfeitamente possível, mas necessitaria de tempo para a troca das músicas, adaptação de parte do texto e deixas, além de ensaio para que a narração ficasse perfeita.
Ainda restavam três sessões e a gerente já tinha selecionado e trazido os fantoches da loja para o espaço da contação. Iniciei a segunda sessão sem a mínima ideia de como contemplar o pedido delas, até que a história terminou sem que tivesse usado qualquer fantoche da loja, e sob o olhar de pena da dona e da gerente. Mas o que elas não haviam percebido é que eu tinha cortado uma cena da história, que ficou mais curta…
Ao terminar, as crianças foram chamadas para “recontar” a história com os fantoches da loja, sob a coordenação de um dos fantoches da minha própria história. Havia lugar para duas narradoras, seis personagens, sonoplastia… As crianças se revezavam enquanto meu fantoche direcionava a movimentação e outras ações.
Estava perfeito. Fizemos uma atividade dramática após o evento, com uma releitura das crianças sobre a história contada, usando fantoches a venda na loja. Durante dois anos permaneci voltado para contar histórias na loja até que a gerência mudou.
O Artigo acima faz parte integral do “Curso de Contação de Histórias” da Cia ArtePalco. Não pode ser reproduzido, copiado, ou utilizado sem prévia autorização.
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