Primeira Infância

A primeira infância, segundo Piaget, será a fase da imitação, sonora e pictórica. Abrange desde o nascimento até os 03 anos de Idade aproximadamente. É nessa fase que a família tende ser mais protetora e oferecer o o maior número de estímulos sonoros, tanto verbais quanto de objetos…

Cia ArtePalco e Samamba – na foto: Mayara Nascimento e Fernando Pessoto

Esta fase compreende do 0 (zero) a aproximadamente 03 (três) anos de vida incompletos. É fácil entender que os estímulos visuais e sonoros terão preferências, em detrimento a verbalização de frases e orações mais completas e/ou complexas. Logo nos primeiros meses de vida e até os sete e noves meses, as sensações serão mais importantes, elas sentirão antes da compreender. Elas estão no mundo da repetição, ritmo e da fonética. Logo, contar uma história da forma que conhecemos não terá a menor importância para a atenção da criança. Ela irá, mesmo, se entreter com o som das palavras, ao invés do seu significado, aos “trejeitos” e tons que usamos mais do que as intenções e razões que queremos empregar.

O Som e A Forma

As narrativas como parlendas, poesias rimadas e cantigas, principalmente que contenham “onomatopeia”, bem como as brincadeiras rítmicas e sons dos mais variados, chamarão por sobre maneira a atenção das crianças que estão na primeira infância. É pela sensação auditiva do mundo e o estímulo de cores e formas que a criança nessa faixa etária procura se relacionar e explorar o ambiente a sua volta. Em nada será danoso contarmos histórias da forma tradicional, mas sua atenção se dissolverá em poucos minutos, porém, se entendermos o comportamentos das crianças na primeira infância, poderão ficar atentas por longo tempo se houver sons, cores e movimentos repetitivos e cadenciados, juntamente com o que cantamos e contamos.

A Repetição

É nessa fase que a criança irá adquirir muitos dos comportamentos e vocabulário que experimentará e exercitará na próxima fase.  Poderíamos pensar que menos “repetições” do mesmo estímulo e mais variações seria melhor, porém, temos que manter certa familiaridade e frequência, voltando aos sons e propostas numa cadência até certo ponto estudada. A variação contínua, sem a revisitação das brincadeiras, da sonoridade e estímulos visuais, pode deixá-las dispersas. Ao contrário, dar a possibilidade de reencontrar um estímulo que lhe foi agradável e divertido fortalecerá sua segurança e aumentará o grau de sua concentração e interiorização do que lhe for apresentado. Diversidade, sim. Mas repetição é a palavra chave para crianças da primeira infância.

Cantigas e Parlendas

As cantigas de ninar são um clássico exemplo de versos adequados a essa faixa etária. Possuem todos os elementos necessários para chamar a atenção dessas crianças e são utilizadas secularmente por todas as civilizações, desde as mais remotas às mais contemporâneas. Trazem rima, “figura de linguagem”, repetição e melodia. Surgem repetidas vezes, se não diariamente da vivência infantil. Passa a ser um “ritual de adormecer”, acalma e estabelece um relacionamento duradouro entre quem canta e quem ouve. Ainda depois de adultos, as musicas suscitam emoções e sensações a diversos momentos da nossa vida.

Interagir com a criança cantando parlendas é essencial para fortalecer os laços entre adultos e crianças.

Ser o Exemplo

Saber como a criança reage nessa fase aos diversos estímulos é essencial para o estabelecimento de um repertório lúdico, oral e emocional. É através da figura materna que a criança terá o primeiro laço social e familiar. Não é por acaso que boa parte dos contos destinados a tenra infância (entre 02 e 03 anos) dos livros contemporâneos e vários tradicionais, possuem personagens femininas marcantes, ou principais, como princesas, rainhas, fadas, tias, madrastas, avó, professoras e a própria mãe. Elas se identificam natural e rapidamente com estas, criando uma empatia quase que imediata. Segundo Freud, na transição da primeira para a segunda infância, e entre a segunda e terceira, externam o complexo de Édipo exatamente advindos da proximidade da figura cuidadora da criança, em especial a adultos familiares, e particularmente as mães, ou suas substitutas. São essas figuras que irão suplantar os instintos agressivos, egocêntricos e antissociais, na imitação afetiva da sua cuidadora em relação ao mundo e as pessoas. Temos, então, que sermos exemplos de conduta, moral, justiça, afetividade e ações. São histórias que tragam esses valores que devemos, em primeiro momento, introduzir gradativamente no dia a dia das crianças da primeira infância.

O Verbo é Ação

Na primeira infância a criança começa a descobrir seu corpo e a se relacionar com ele. A motricidade deve ser estimulada. Ela tem necessidade de exercitar a “pega” e o manuseio de objetos, além de imitar gestos simples e claros. Também, a linguagem está em franco desenvolvimento e experimentação. As palavras reconhecíveis são ilhas em meio às inúmeras ainda desconhecidas e suscitam movimento e reações. A dedução dos significados ocultos nos signos sonoros, que para nós já não tem atrativos significantes, cria um movimento e esforço contínuo de compreensão interna. Ouvir é o grande estímulo para a fala. Alguns estudos apontam para que a resposta fetal ás batidas do coração da mãe é o desenvolvimento do órgão da fala, numa tentativa orgânica de estabelecer comunicação verbal.

Se assim for, parte da resposta que procuramos sobre a ausência de “silêncio” e constantes interrupções em atividades lúdicas, principalmente para a faixa etária entre 02 e 3 anos, sua inquietação e tentativas de relacionamento com o agente sonoro, são explicáveis.

Plateia ou Personagem

Elas não são plateias no sentido exato da palavra, mas participantes vivos no ato lúdico ali estabelecido. Elas querem pegar, tocar, olhar de perto o que está acontecendo.  Atividades que não prevejam essa interação e picos de concentração e completo desligamento têm menos chances de sucesso, mesmo com crianças entre 2 e 4 anos. Elas sentirão vontade de rir, levantar, correr, pegar, tocar, perguntar, falar, desmentir, desacordar… Ainda não dominam reações como o medo, o susto, a ansiedade, a excitação e irão reagir imediatamente as ações que causarem estranheza, ou reconhecimento afetivo em seus sentidos. Se desejarmos que ouçam quietas e compenetradas a música, ou história será motivo de decepção para nós contadores. Muitas vezes nem chegaremos ao final da história, pois que a reação coletiva moverá o grupo para outro foco de atenção: danças, pulos, gritos, correrias.

Interação

Nas crianças que chegam aos dois e três anos,  já conseguem resolver várias das habilidades motoras e partem para a motricidade  fina e noções de lateralidade. Os gestos dão lugar aos movimentos e coreografias lúdicas.  Elas pedem atividades que exercitem suas pernas e tronco e qualquer estímulo sonoro e visual serão transformados em movimento físico por elas. Não raro vemos crianças dançando e pulando em momentos da música de maior excitação, ou em momentos da história em que haja algum efeito, ou recurso sonoro. Para aproveitarmos esta predisposição e mantermos as crianças sempre presentes e concentradas em nossas atividades, seria interessante mesclar atividades que possibilitem a exteriorização dessas necessidades, com momentos de quietude e narrativa mais cadenciada. Atividades de curta duração que exijam concentração para o treino da motricidade fina, como dobrar, cortar e colar começam a ser introduzidas e podem fazer parte de um plano de histórias em que, antes, ou pós a narrativa, um elemento da história seja motivo de trabalho manual.

Muitas das descobertas da primeira infância se amplificam na segunda, com o domínio da oralidade e controle da lateralidade.


O Artigo acima faz parte integral do “Curso de Contação de Histórias” da Cia ArtePalco. Não pode ser reproduzido, copiado, ou utilizado sem prévia autorização.

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