Introdução: quando a narrativa vira política pública
Por trás de toda boa história há uma semente de transformação.
A contação de histórias, tradicionalmente associada à infância e à oralidade popular, tem se consolidado como instrumento de impacto sociocultural em programas e leis de incentivo à cultura — como a Lei Rouanet, o ProAC (SP) e as Leis de ICMS e LICs municipais.
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Nos últimos anos, projetos de contação de histórias têm se tornado ações de fomento à cidadania, à sustentabilidade e à formação estética de comunidades.
Mais que um espetáculo, cada história contada é uma política cultural em ato.
A contação de histórias no contexto das leis de incentivo
As leis de incentivo à cultura foram criadas para estimular a produção artística e democratizar o acesso aos bens culturais.
Mas em tempos de crise e desigualdade, o desafio é torná-las instrumentos de transformação social efetiva.
A contação de histórias responde a esse desafio com naturalidade: é acessível, itinerante, educativa e profundamente humana.
Em um país com dimensões continentais e múltiplas realidades, o contador de histórias é o artista que cabe em todos os lugares — da escola rural ao centro cultural, da ONG ao teatro municipal.
E por isso, cada projeto de contação financiado por leis de fomento tem potência de impacto multiplicado.
Casos reais: quando a palavra se transforma em ação
Vários projetos brasileiros têm mostrado como a contação de histórias pode alinhar arte, educação e responsabilidade social.
Entre eles, destacam-se as ações da Cia Artepalco dos Contadores de Histórias, dirigida por José Robson dos Santos, que há anos transforma a oralidade em ferramenta educativa e ambiental.
🔹 “Armarinho – Cantinho da Imaginação” (ProAC/SP)
Oficinas de iniciação teatral em escolas públicas, estimulando criatividade, expressão corporal e leitura dramática em crianças.
Resultado: escolas mais participativas e alunos com autoestima e repertório cultural ampliados. Komedi
🔹 “Baú Mágico” (ProAC/SP)
Apresentações com fantoches e entrega de equipamentos culturais para entidades que atendem crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Resultado: formação de público e estímulo à fruição cultural em espaços sem acesso regular à arte. Produtora: Vida Flats
🔹 “De Olho nos ODS” (Lei Rouanet)
Contação de histórias sobre sustentabilidade e meio ambiente, inspirada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Resultado: educação ambiental transformada em narrativa lúdica e acessível. Lampejos Produções Artísticas
🔹 “Olhos de Retrós” (Lei Rouanet)
Projeto artesanal que integra teatro e reaproveitamento de materiais têxteis, com narrativas feitas de retalhos e memórias.
Resultado: valorização do fazer manual e da sustentabilidade estética. Lampejos Produções Artísticas.
🔹 “Minha Vida Saudável” (Lei Rouanet / Nestlé)
História teatralizada sobre alimentação saudável, promovendo hábitos conscientes entre crianças e famílias.
Resultado: aproximação entre cultura e saúde pública por meio da arte.
🔹 “Meus Amigos PETS” (ProAC ICMS/SP)
Projeto atual da Cia Artepalco, abordando posse responsável e sustentabilidade com humor, ternura e reflexão.
Resultado: educação socioambiental transformada em experiência sensível. Incentive>>
Esses exemplos demonstram que a contação de histórias pode — e deve — ocupar o lugar de projeto estratégico nas políticas de incentivo cultural, por unir formação, inclusão e impacto mensurável. Cia Artepalco.
Por que a contação de histórias é ideal para leis de incentivo
Baixo custo e alta capilaridade: fácil circulação e adaptação a diferentes espaços e públicos.
Resultados mensuráveis: alcance, público atendido, oficinas e contrapartidas são fáceis de documentar.
Convergência temática: permite trabalhar ODS, cidadania, leitura, meio ambiente, saúde e inclusão.
Caráter formativo e educativo: dialoga diretamente com escolas, famílias e comunidades.
Acessibilidade: dispensa infraestrutura complexa e chega a regiões sem equipamentos culturais.
Assim, a contação de histórias cumpre o tripé essencial das políticas culturais contemporâneas: acesso, formação e transformação.
Da oralidade à transformação social
A contação de histórias não se limita à performance artística.
Ela é ferramenta de mediação social: ensina empatia, estimula o pensamento crítico e promove diálogo entre gerações e culturas.
Cada projeto narrativo torna-se uma ponte entre arte e comunidade, onde o público não é apenas espectador, mas coautor da experiência.
É o que o educador Paulo Freire chamava de “ato de libertação pela palavra” — a oralidade como veículo de consciência e pertencimento.
Fomentar histórias é fomentar humanidade
Ao escolher apoiar projetos de contação de histórias, empresas, governos e produtores culturais investem no poder mais antigo e mais transformador da humanidade: o de contar e ouvir histórias.
Essas narrativas não apenas formam plateias — formam cidadãos.
E, em tempos de pressa e ruído, cada história contada é um gesto de resistência e de esperança.
Resumo
A contação de histórias tem se consolidado como linguagem estratégica em projetos financiados por leis de incentivo à cultura. Através de oficinas, fantoches e narrativas temáticas, une arte, educação e transformação social.
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