Outra preocupação é a ocupação do espaço cênico, que pode ser um palco, uma praça, um salão. A movimentação e o preenchimento dramático do local onde contamos a história também faz parte do plano narrativo. Dois pontos serão importantes:
- A visão da plateia sobre o contador e elementos cênicos;
- A abrangência visual do contador sobre a plateia.
Para que o contador tenha controle sobre a reação dos ouvintes, interagindo e corrigindo, quando necessário, a modulação da narrativa, manter toda a plateia em seu campo de visão, pelo menos, a maior parte do tempo, exceto se for proposital não ser visto por toda, ou parte da plateia, deve ser parte do estudo do espaço cênico e da localização da plateia. Algumas características, de acordo com o espaço cênico, são:
- Pilares, pilastras e postes;
- Desníveis e barreiras;
- Distância, amplitude e angulação.
Algumas dessas características não serão possíveis transpor, retirar, ou alterar por questões físicas, ou geográficas. Nesse sentido, a atuação do narrador será o ponto de “superação”: sua movimentação e manipulação dos elementos cênicos. Nem sempre o contador de história tem essa consciência espacial além do local em que vai atuar. Dar atenção a esse ponto deve ser uma rotina e logo passará a ser um hábito tão automático e bastará um olhar mais demorado ao que saltará aos olhos o que se deve dar atenção.
Após a observação das características do espaço em que se vai contar a história, mudanças sutis vão auxiliar no entendimento e interação da narrativa. Algumas correções da atuação implicam:
- Inflexão verbal;
- Disposição dos elementos cênicos;
- Amplitude da expressão corporal;
- Volume da sonoplastia;
- Tamanho de alguns elementos cênicos;
- Reestruturar interações e dinâmicas.
Relato de uma experiência
No ano de 2019, fui chamado para uma contação de história numa escola da cidade de São Caetano do Sul, SP. Era a semana da criança e a escola tinha cerca de quinhentos alunos. Iriam assistir a apresentação trezentas e vinte crianças entre quatro e nove anos. Os espaços que a escola tinha em sua estrutura eram:
- Um salão sem palco para cento e cinquenta pessoas;
- Um anfiteatro com palco para 350 lugares;
- Uma quadra coberta e outra aberta;
- Um pátio;
- Um espaço recreativo aberto.
No primeiro contato a escola me deixou a disposição o anfiteatro, salão e a quadra coberta. Mandaram as características por e-mail e combinamos quatro sessões:
- 02 sessões dos quatro aos seis anos
- 02 sessões dos sete aos nove anos
Como a média de crianças em cada sessão seria de oitenta crianças, escolhi o salão. No teatro sobraria muito espaço vazio na plateia e desnível para uma atuação mais intimista e descartei. Na quadra distração de pessoas passando. Na quadra fechada reverberação, eco. No espaço aberto recreativo, vento, sol, formigas, passarinho, buzinas dos carros ao lado da escola, que poderia integrar, se fosse realmente necessário.
Já no salão fechado, a apresentação poderia ser mais interativa, mais protegida e de fácil controle. As crianças não teriam acesso ao espaço até que fosse a hora da apresentação, assim, poderia produzir o espaço cênico com tranquilidade. Também, o salão tinha uma única entrada para a plateia e conseguiria vê-las chegado e se acomodando, mas elas não conseguiriam ver meus objetos, atrás do meu cenário, nem os fantoches que seriam usados. Perfeito.
Ao chegar à escola com duas horas de antecedência, o que sempre é aconselhável, a coordenadora me informou que seria apenas uma única apresentação com TODOS os alunos juntos, por algum motivo que não me lembro, pois que fiquei petrificado por alguns segundos, e minha memória de longa duração se bloqueou.
Seria então uma sessão para trezentas e vinte crianças. Pedi para trocar de lugar, logicamente, pois no salão só caberia metade das crianças. Mas o teatro não estava disponível porque eu tinha reservado o salão e ele estava sendo decorado. Pedi a quadra aberta, mas pelo mesmo motivo ela estava sendo preparada para outra atividade da semana da criança. Não era ideal, mas pedi a quadra fechada e, pasmo, não estava disponível também. O pátio? Estava sendo arrumado com os doces e salgadinhos. Sobrou-me o espaço aberto, só não contei com um detalhe: começou a garoar.
Cogitei a remarcação, mas não havia programação para transferir. Então, só me sobrou um corredor que ligava o pátio às salas de aula.
O corredor tinha cerca de cinco metros de largura por quarenta de extensão. Não caberiam todos na minha frente no sentido da largura, pois uso de dois a três metros de espaço cênico (na história que levei). Também se dispusesse todos na minha frente, no sentido da extensão a partir do meio da plateia, as crianças teriam dificuldade em interagir, ouvir e visualizar algumas cenas.
Coloquei, assim, metade das crianças a minha direita e metade à minha esquerda no sentido da extensão, com um vão entre as duas plateias de cerca de quatro metros, onde passou a ser meu espaço cênico.
A atuação mudou completamente, porque eu passei a ter duas frentes, ora de costas para um grupo, ora para outro, ora atuando lateralmente para ambas. A solução salvou a apresentação, mas sacrifiquei algumas informações da história. Porém, a dinâmica ficou bem ritmada e as crianças de um lado da plateia interagiram com as outras do ouro lado. A reação que viam no rosto das outras, o que não daria se fosse num teatro convencional, estimulava toda a plateia. Foi muito bacana.

Ao final da aula, mais informações para a criação do plano de uma contação de história. Os detalhes, tais como texto, formato e como enviar para sua avaliação final estarão na “rota de aprendizagem” .(os exercícios, plano de aula e vídeos são exclusivos para alunos do curso.)
O Artigo acima faz parte integral do “Curso de Contação de Histórias” da Cia ArtePalco. Não pode ser reproduzido, copiado, ou utilizado sem prévia autorização.
INSCREVA-SE: Se deseja participar do curso, inscreva-se em aqui.